A Mulher

É esta é a forma feminina,
um nimbo divino que exala força da cabeça aos pés,
e atrai com uma feroz e inegável atracção.
Sou seu. Assim sugado pelo seu suspiro de menina,
como se não fosse mais que um vapor indefeso, onde tudo se desfez,
onde tudo desaparece, menos a paixão.

Poesia. Arte. Religião, o próprio Tempo.
O visível e indivisível, e até mesmo o sólido mundo,
E o que se espera do paraíso e do medo do inferno,
todos consumidos, sem receio de contratempo.
Cabelo, busto, ancas, e aconchego de pernas fecundo,
negligentemente caídos em mãos lassas, sem governo.
(as minhas por demasia.)

Inchaço de amor de carne e dor deliciosa,
Ondulando na noite rendida.
Este é o núcleo, sim. Que faz criança nascer da mulher,
E o homem consumir-se nessa fome viciosa.
É este o resumo de uma condição vencida,
A mescla do que é dado e do que se quer.

Morro por ti, e me tomo (vivo) novamente,
vejo minha alma reflectida na natureza,
mais longe, através de uma névoa de ser,
que de tanto exalar perfeição ao descrente,
só pode ser uma de inexprimível beleza,
e mais sei que seja, senão tu, ó mulher!

Casimiro Teixeira

Poema do fim da rua

Não posso aspirar a um sucesso presente,
exijem-me o atrapalho da fama crua,
e não me perdoam a mais ínfima fraqueza.
Fazem-me estar aqui, prostrado e inútil,
sobre as pedras raras e polidas,
neste ponto distante, aqui, exactamente!
Obrigado a mendigar, de pé, numa rua,
aguardando o dia, que à noite se reveza,
em sombras infinitas de um ser fútil,
que ainda espera por certezas despidas.

Casimiro Teixeira